sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Quimera




Bem deixe que eu mesma me apresente. Estou aqui há muitos e muitos anos, mas as minhas diversas formas deixam qualquer homem confuso. Já causei muita desordem no mundo, pelo fato das pessoas não saberem como lidar comigo.

Meu trabalho consiste em fazer com que o ser humano ambicione cada vez mais e mais os prazeres da vida. Minha pele transpira o pecado e o meu toque delicado cheio de volúpia, confunde os sentidos. Posso levar você a cometer o que chamam de luxúria, não procure mostrar resistência.

A vaidade me persegue, e para estar comigo é preciso ter prudência para com a aparência.
Não existe apego ao dinheiro de forma exagerada, existe bom gosto e conforto o termo avareza é uma tolice. A natureza do meu jogo consiste em uma competição onde o orgulho é fundamental e a ira inevitável. Se o homem tornou-se antropofágico a culpa não é minha.

Posso lhe mostrar como aproveitar bem a vida, e degustar as coisas mais deliciosas sem que fique com vergonha de repetir e depois ficar horas deitado com aquela sensação boa de cansaço mesmo que não tenha feito nada o dia todo.

Ao mesmo tempo em que vejo tudo o que deseja, sou o que precisa.
Não é difícil me encontrar, conhece os sete pecados?
Eu sou o oitavo.
Rachel Oliveira

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Sono


Duas da madrugada, você ainda não chegou. Olho as paredes como que assustada com as sombras que sempre estiveram ali e eu nunca as notei. Encho uma taça, na esperança de espantar pensamentos distantes sem muita força. O vinho barato desce arranhando a garganta e aquece todo meu corpo frio que agora apenas está em busca de almas quentes. Almas que um dia mandei embora. Mas esse choque de temperaturas os distancia, como se houvesse uma barreira separando, impedindo a fusão de sentimentos, o equilíbrio.

A minha última chance eu desperdicei, não me arrisquei por que o frio já estava se aproximando, e a alma daquele pobre coitado, sempre tão quente, me chamando com os olhos em chamas, com palavras que para mim pareciam faíscas que machucavam ao serem pronunciadas. Eu o mandei embora, tentei me proteger e agora estou congelando sentimentos que um dia foram mais vivos que o meu próprio ser.

Os congelo para um dia poder usá-los com alguém que esteja tão acostumado com o frio quanto eu, que não se importe de viver com um corpo que não sente um simples toque, que não tenha apenas uma lágrima para derramar, nem que seja de alegria. Vou guardando-os dentro de mim, e ficando cada vez mais fria.

E você não vem. É sempre assim, sempre me faz esperar. E eu sem companhia apenas espero você chegar e trazer seu mundo de ilusões, trazer aquela multidão de confusões quando consigo me livrar de você. Já bêbada de pensamentos, o chamo, o grito, suplico. Vem sono, e me ajude a liberar tristezas e dores, em sonhos e pesadelos. Ajude-me a me livrar dessas sombras, desse frio, desse gosto...

Aquele gosto, sim ainda o sinto. O gosto amargo de decepções esquecidas, de palavras perdidas que não saem da minha boca. As sombras que vão e voltam, penetram paredes, ultrapassam portas, que só servem pra lembrar o passado, e o meu futuro tem sido esquece-lo.

Stéphanie Badaui.